Eles vão chegar a qualquer momento. A lágrima de desespero rolou sobre a pele suave, esperando adoçar a saliva já amarga pelo medo. Era a primeira vez que as crianças viajavam sozinhas, dois dias, sem conhecer ninguém.
Pensava neles a cada minuto, os segundos viravam horas, os noticiários explodiam acidentes na estrada. O pânico tomou conta da situação.
Dois dias, quarenta e oito horas aguardando a pior notícia. Será que eles vão descer na rodoviária errada? Será que comeram, tomaram banho, choraram a minha falta? Será que uma criança de 11 anos sabe como cuidar de outras duas de 9 e 7?
Mas era preciso confiar. Foi pela mãe que os filhos resolveram abandonar o conforto, a escola e os amigos. Foi por esperança que a mãe abandonou a família, os filhos e sua terra natal. Tudo valeria a pena? Talvez. Era preciso acreditar. E acreditar também que eles iam chegar, certinho como a mamãe explicou.
O ônibus já atrasado há duas horas mostra o pára-choque na entrada da Rodoviária. O vidro espelhado não deixa ver o que tem dentro. Pára na portaria, passam-se dois, três, cinco minutos intermináveis até que o fiscal libere os passageiros.
A mulher de vermelho desce com as malas e o travesseiro. A ansiedade aumenta, será que eles estão nesse aí? As lágrimas atrapalham, e de lenço, só a palma da mão.
Um homem com o filho, a esposa gorda de vestido de bolas rosas vem logo atrás. Um senhor idoso desce a escada bem devagar e volta, esqueceu sua frasqueira.
A mãe, já em pânico, rodeia o ônibus em busca de uma luz para seu desespero. Seus filhos, onde estão?
Até que as lágrimas cessam e quase num salto, ela leva um susto. Lá vem os três, descendo as escadas e com o coração da mãe nas mãos.
Dedico esse conto à Margarete, minha querida mãe e ídola.
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