Caminhada

Sapatos na nuca
Saia amarrada
Embaraço de fios
passos marcados

Areia nos olhos
Pouca visão
Areia dos dedos
Roçando no chão

Cabelos ao vento
Cabeça no ar
Olhar esquecido
De tanto calar

Longa caminhada
Na areia molhada
Gotas da jornada
Na saia enrugada.

domingo, 20 de abril de 2014

Deus não premia nem castiga


















Obrigada pela presença de todos. Pra começar, gostaria de dividir com vocês um pensamento: 

Dentro de cada um de nós existe um sentimento da existência de Deus.

E isso não vem de hoje. Na antiguidade, muitos homens acreditavam que existiam Deuses para cada um dos fenômenos que não conseguiam controlar ou explicar: Deus do Sol, da Lua, da Chuva, Deus do Trovão...

Com o passar do tempo, o homem foi evoluindo e Deus foi mudando suas características.

No velho testamento, vemos um Deus vingativo, ditador, até mesmo sádico, um Deus que excluía alguns e tinha preferências por outros. Esse Deus recebia conselhos dos homens e mandava matar a todos que adoravam outros deuses.

Não foi a toa que a grande maioria dos homens do ocidente não entendeu quando Jesus apareceu dizendo ser o filho de Deus e Salvador. Num período tão violento da história, eles aguardavam um Salvador guerreiro que viria fazer justiça pela espada. O amor incondicional pregado por Jesus não combinava com a época em que ele esteve na terra, um período sem lei, onde matar uns aos outros era algo do cotidiano.
Depois disso a humanidade matou quem não acreditava no Deus de Moisés, depois matou quem não acreditava no Deus de Jesus. Alguns povos se matam até hoje para impor suas crenças e tem suas verdades como absolutas.

Estamos em 2014. O que mudou? 

Hoje, não todos ainda, infelizmente, mas grande parte da humanidade tem liberdade de acreditar e de expressar suas crenças. Vemos morando numa mesma casa: ateus, umbandistas, cristãos, budistas, evangélicos, espíritas etc. É comum, em função dessa diversidade, as famílias combinarem entre si que religião ou crenças são temas proibidos (maneira saudável de evitar brigas).

Para alguns Deus é bondade pura; para outros, Deus é rigoroso e ir contra suas leis condena o pecador a castigos atrozes; ainda para terceiros, Deus sequer existe, é uma invenção para acalentar corações.

Para nós, espíritas, temos o Livro dos Espíritos que nos ajuda a responder quem é Deus através da questão número 1:

Q. nº 1: O que é Deus?“Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”.


Partindo do princípio que Deus é inteligência suprema, então, ele não pode ser comparável a nós homens, com nossas dificuldades e deficiências, então, é inviável para Deus ficar bravo com nossos atos ou feliz com nossas glórias. Isso seria comparar Deus ao homem e suas confusas emoções.

Se acreditarmos que não há efeito sem causa e Deus é causa primária, então tudo o que o homem não criou só pode ser obra de Deus. Colocamos nessa lista o céu, a terra, as águas, o sol, o universo, as estrelas, as plantas, os animais e a nós mesmos. E se todo efeito tem uma causa, isso também se aplica às nossas vidas.
Desde o nascimento temos a liberdade de escolher, ou seja, temos o livre-arbítrio como máxima de nossas vidas. Temos a liberdade de fazer o nosso próprio caminho.

O que é bem ou mal, experimentamos todos os dias na prática. Se a mãe avisa que enfiar o dedo na tomada é “mal” e nós não acreditamos, ao enfiar o dedo na tomada tomamos um choque e aprendemos que isso pode nos machucar.

Assim, vamos crescendo e experimentando coisas que nos fazem bem e coisas que nos fazem mal e por experiência, temos dentro de nós a busca pelo bem, pois também buscamos aquilo que nos faz mais felizes. Se acreditarmos em Deus, ou se acreditamos simplesmente na evolução de nós mesmos, também acreditamos que o melhor caminho só pode ser o do bem, pois o do mal quase sempre acarreta dores profundas. Se pensarmos em um exemplo do bem, é quase imediato pensarmos em Jesus.

Quem era Jesus? O que o mantém vivo 2014 anos depois? 

A obra de Cristo é cercada de ensinamentos de humildade, misericórdia, piedade, entrega e bondade. Cristo realmente sabia pegar algo ruim e transformar em algo bom. Mesmo nos momentos mais atrozes de sua história, ele pedia perdão ao Pai pelos atos cometidos pelos homens.Suas ações nos deixaram claro o caminho para chegar ao bem supremo, representado pelo Pai Celestial. Cristo nos deixa o exemplo, nos deixa um manual, um passo-a-passo de como evoluir. Basta estudar a sua história, a sua trajetória, os seus atos e poderemos enxergar claramente o caminho da evolução de nossas almas.

E quando pensamos em seus ensinamentos, eu pergunto: em que pé estamos em nossa trajetória?

Estamos próximos ao Pai ou ainda muito longe? As escolhas ao longo desse processo são nossas ou de Deus? Se vou seguir à esquerda ou à direita, quem determina sou eu mesmo ou Deus?

Pergunto: quantas vezes entramos em uma loja e tratamos bem as pessoas ao redor? De acordo com nossas ações, o que temos em troca? Será que Deus é responsável por essa reação das pessoas? Deus é responsável pelo sentimento ruim que recebemos ao emanar um sentimento ruim para outra pessoa?

Hoje mesmo me perguntaram: como Deus pode ser tão injusto? Como pode deixar crianças passarem fome na África, outras crianças inocentes serem estupradas e mortas? Como Deus deixa algo assim acontecer sem fazer nada?

Para responder essa questão, temos que levar em consideração nossas escolhas e também, as consequências dessas escolhas.

É um fato que ao praticar uma boa ação, logo ali na frente, muitas vezes de maneira instantânea, há uma reação. Como espíritas, temos consciência de que a lei de ação e reação não se limita a espaços curtos de tempo.  Se a nossa vida não acaba aqui, sabemos que levamos os efeitos e causas para outras existências. Seria muita pretensão achar que podemos aprontar um monte por aqui e isso tudo não nos afetar após a morte.

Seria muito fácil nascer em outra vida e começar do zero, limpinho, perdoado por tudo e todos que você destruiu no caminho.


Há alguns dias assisti um filme baseado em fatos reais: a história da Natasha Kampush que ficou 8 anos em cativeiro. 

O sequestrador a estuprou, a fez passar fome e acreditar que não podia fugir por todos esses anos. Ela tinha um pavor tão grande dele que quando ele começou, depois de muitos anos a levá-la para passear em lugares públicos, ela simplesmente não conseguia fugir.
Depois de 8 anos, Natasha enfim conseguiu fugir e logo após a sua fuga, o sequestrador se matou ao se jogar na frente de um trem.
As razões de sua morte não são claras. Não dá pra saber se ele se matou por medo de ser preso ou por peso na consciência, mas o fato é que não existe um único caminho a se seguir, mas qualquer caminho que escolhemos, no fim de tudo, nos levará à busca pelo perdão.
A consciência é o nosso maior algoz que, mais cedo ou mais tarde, irá nos cobrar por nossos atos.
Vamos supor que o sequestrador da Natasha, em um dado momento, seja numa existência próxima ou em outras posteriores, irá um dia se deparar com sua própria consciência. E dessa consciência irá nascer o arrependimento.

O arrependimento causa uma dor horrível e é um fato que, muitas vezes, é mais fácil perdoar a quem te fez um mal do que perdoar a si mesmo.


Na busca pelo perdão de Natasha e pelo perdão de si mesmo, o sequestrador poderá seguir por vários caminhos. Poderá pedir o perdão de Natasha, poderá nascer novamente e recebê-la como filha para amá-la e cuidar dela. Nós nem imaginamos a infinidade de coisas que podem ser feitas. 

Porém, muitas vezes, pessoas que fizeram algo muito ruim só encontram a paz ao se colocarem na mesma situação de sua vítima.


Então pedem à espiritualidade para voltarem ao planeta e passarem por situações similares às que causaram, como forma de resgatar os seus próprios erros. O próprio livro dos espíritos nos relata situações como essa.

Livro dos Espíritos: Q. 258. No estado errante, antes de nova existência corpórea, o Espírito tem consciência e previsão do que lhe vai acontecer durante a vida?

Ele mesmo escolhe o gênero de provas que deseja sofrer; nisto consiste o seu livre-arbítrio.


Q. 258. A) Não é Deus quem lhe impõe as tribulações da vida, como castigo? 

Nada acontece sem a permissão de Deus, porque foi ele quem estabeleceu todas as leis que regem o Universo.Dando ao Espírito a liberdade de escolha, deixa-lhe toda a responsabilidade dos seus atos e das suas conseqüências; nada lhe estorva o futuro; o caminho do bem está à sua frente, como o do mal. Mas se sucumbir, ainda lhe resta uma consolação, a de que nem tudo se acabou para ele, pois Deus, na sua bondade, permite-lhe recomeçar o que foi malfeito.  É necessário distinguir o que é obra da vontade de Deus e o que é da vontade do homem. Se um perigo vos ameaça, não fostes vós que o criastes, mas Deus; tivestes, porém, a vontade de vos expordes a ele, porque o considerastes um meio de adiantamento; e Deus o permitiu.

Q. 259. Se o Espírito escolhe o gênero de provas que deve sofrer, todas as tribulações da vida foram previstas e escolhidas por nós?

Todas, não, pois não se pode dizer que escolhestes e previstes tudo o que vos acontece no mundo, até as menores coisas. Escolhestes o gênero de provas; os detalhes são conseqüências da posição escolhida, e freqüentemente de vossas próprias ações.

Se o Espírito quis nascer entre malfeitores, por exemplo, já sabia a que deslizes se expunha, mas não conhecia cada um dos atos que praticaria; esses atos são produtos de sua vontade ou do seu livre-arbítrio. O Espírito sabe que, escolhendo esse caminho, terá de passar por esse gênero de lutas; e sabe de que natureza são as vicissitudes que irá encontrar; mas não sabe quais os acontecimentos que o aguardam. Os detalhes nascem das circunstâncias e da força das coisas. 

Só os grandes acontecimentos, aqueles que influem no destino, estão previstos. Se tomas um caminho cheio de desvios, sabes que deves ter muitas precauções, porque corres o perigo de cair, mas não sabes quando cairás, e pode ser que nem caias, se fores bastante prudente. Se, ao passar pela rua, uma telha te cair na cabeça, não penses que estava escrito, como vulgarmente se diz.

Para contextualizar um pouco, vemos que se o espírito vem à Terra por diversas encarnações e o roubo é sempre o que o faz sucumbir, o espírito pode escolher nascer entre pessoas que roubam. Somente assim ele conseguirá vencer seus instintos de vez.

Hoje, ainda temos na terra muitas pessoas que precisam vencer tendências suicidas, tendências ao roubo ou ao assassinato. Infelizmente, temos entre nós tendências quase primatas a serem resolvidas.
Ao evoluirmos, tais instintos já não nos perturbam mais. Quando vencemos a tendência de roubar, o espírito não se sente mais tentado a praticar essa ação, esteja onde estiver. Isso é fruto da evolução.

E já podemos perceber uma evolução entre nós. No mundo atual, temos leis que condenam esses atos.  Ainda estamos longe de uma lei justa que reintegre essas pessoas à sociedade, mas se pararmos para pensar, há pouco tempo atrás as leis nem sequer existiam. 

Quando vencermos as tendências animalescas, partiremos para questões cada vez mais complexas e menos carnais. Passaremos a lutar contra o orgulho, contra a avareza, contra a impaciência. Aprenderemos a amar a Deus, o que significa amar tudo o que ele criou: o planeta, os animais, as plantas, o céu, o ar, a água. E vejam, no fim dessa lista, aprenderemos a amar o homem. Mais um adendo, temos que aprender a nos amar antes de amar o outro. O caminho é longo...

Se não soubermos nos amar, nos perdoar, se não procurarmos nos conhecer e tomar consciência de nossos atos, é praticamente impossível amar o próximo.

Para amar o outro eu preciso estar feliz com meus próprios atos, preciso estar satisfeito comigo mesmo. Quando somos ignorantes e não temos consciência, isso é fácil. Não pensamos muito no assunto. Mas quanto mais consciência e conhecimento nós tivermos, mais a nossa responsabilidade irá aumentar.

Essa responsabilidade gira em torno de tudo o que fazemos. Mesmo não entendendo e não tendo lembrança das razões, muitas vezes a vida nos premia com filhos que não são nossos, com parentes doentes, com a responsabilidade de cuidar sozinho de avós ou dos pais e irmãos. Muitas vezes somos premiados com a doença, com a necessidade de termos que aceitar a ajuda de outras pessoas para fazer uma coisa simples como pentear o cabelo, vestir uma calça, ir ao banheiro. Quantos de nós nos rebelamos contra isso, nos sentimos humilhados e inúteis? Será que isso tudo não foi fruto de nossas próprias escolhas?


Todas as nossas experiências devem ser analisadas e aproveitadas para promover boas ações.


Algumas vezes somos premiados com algo que parece muito bom para os padrões da terra, imagine ganhar na megasena? Mesmo nessas provas, que parecem ter somente seu lado bom, é preciso estar atento. Ganhar uma grande quantia pode ser maravilhoso mas também pode nos levar a sucumbir por caminhos tortuosos, do orgulho, da avareza, que acarretam erros que você terá que resgatar por muitos e muitos anos.

Muitas vezes essa vida em que estamos não nos permite ver a extensão de nossos atos. Tanto a recompensa quanto o resgate estão lá adiante, disso podemos ter certeza.


Ficar atento é a coisa mais importante a ser feita nesse processo e pode nos ajudar a identificar o que devemos trabalhar para acelerar o processo evolutivo.

Fique atento ao que parece muito difícil. Normalmente, o que é muito difícil para nós é aquilo que está dentro das provas que temos que passar. Se ter paciência é a coisa mais difícil, tente trabalhar, justamente, a paciência.

Fique atento ao que se repete. Se a sua mãe sempre lhe diz que você é orgulhoso, que é avarento, se seus irmãos e amigos reclamam da mesma coisa e se o seu marido ou esposa acabam voltando na mesma questão, preste atenção. Pode estar aí o grande trunfo da sua evolução. Trabalhe isso e verá que tudo se encaminha.

Deus nos deu a liberdade de escolher e também, nos dá a liberdade de resgatar. Os prêmios e os castigos de cada ato são fruto do nosso trabalho, fruto de nossas escolhas, então, escolhamos o bem para colhermos o bem.


Gostaria de deixar aqui uma mensagem e finalizar com esse vídeo. 

A resposta ao vídeo? 
Está em nós.

Obrigada.




Palestra realizada no Centro Espirita de Educação em 20/02/2014 por Joyce Baena.