Caminhada

Sapatos na nuca
Saia amarrada
Embaraço de fios
passos marcados

Areia nos olhos
Pouca visão
Areia dos dedos
Roçando no chão

Cabelos ao vento
Cabeça no ar
Olhar esquecido
De tanto calar

Longa caminhada
Na areia molhada
Gotas da jornada
Na saia enrugada.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

T maiúsculo

Hoje acordei sentindo uma felicidade enorme, daquelas que arrepia a pele e ouriça os pelos.

Olhei para o lado e ...uma nuvem escura invadiu a minha cama. Ela se foi.

Como? Como pude deixá-la sair assim, sem um toque nos lábios? O que fiz de errado? A noite não significou nada? O que fiz a noite passada?

Arrepio de desespero.

Vasculhei a casa inteira atrás de um ínfimo bilhete, uma linha sequer e NADA. Nem uma marca de batom na camisa, nem um pedaço de papel higiênico no lixo do banheiro, nada para provar que a noite passada existiu.

É tudo o que eu ganhei por dar o melhor de mim a ela: AQUELA INGRATA.

Muita RAIVA.

O chuveiro está esquentando demais, preciso arrumar isso. Será que ela roubou alguma coisa? Acho que não, aí já seria demais.

Deixe-me pensar... entrei no carro com a minha melhor roupa, meu melhor perfume, encontrei-a na hora certa, no lugar certo, sentindo a coisa certa. Então por quê?

Tudo bem que não foi bem um encontro, foi mais um, digamos, desencontro. Se aquela vagabunda da minha mulher não tivesse me seguido outro dia, nada disso teria acontecido.

Porque será que as mulheres são tão desconfiadas? Será que não sabem que basta confiar que o prazer desaparece? E que prazer teria trair sem desconfiança? E que prazer que ela tem, senhor! É um sentimento de louco.

Ai, caramba. Agora ferrou de vez, essa droga de racionamento e eu aqui, todo ensaboado. Cadê a toalha? ACHEI! Tem um fio de cabelo aqui! É loiro ou castanho? Deixa eu ver... droga, é da minha mulher.

Cadê a minha calça? Toda vez isso, também, essa mania de arrumação... tira todas as minhas coisas do lugar. Hum... camisa verde com calça marrom...é, ficou bom. Esse sapato está meio gasto, mas tudo bem. É um estilo.

Será que.. se eu voltar naquele bar eu vou encontrá-la de novo? É isso! Vou procurá-la. Puts, loira ou morena? No escuro nem deu pra perceber. Já sei, vou chamar o Alfredo e inventamos uma estória para fazer as moças gemerem. Assim vou reconhecê-la. Aquele perfume, aqueles gritinhos... Ih, a campainha!

Boa noite, quem é? Oi meu amor, pode entrar. Como? Você quer o quê? Mas o que você viu não foi bem o que aconteceu. Você está se sentindo bem? Está se sentindo nervosa? Irritada? Prestes a explodir? O divórcio? Pra quê, meu amor? Vai dar muito trabalho, imagina o quanto a gente vai gastar com aqueles sangue-sugas que vão querer tirar as nossas calças com um só olho? Vamos lá, eu sinto muito. Me perdoa. Estou me sentindo muito arrependido. Eu preciso que me perdoe. Isso, foi só uma aventura, você estava viajando, eu estava com saudades, na verdade não vivo sem você. Vem, entra, não chore, eu te amo, você sabe disso. E tem as crianças, elas precisam do nosso apoio e vão voltar logo da colônia. É verdade! Claro que gosto de você, afinal, estamos juntos há tanto tempo! Eu juro que não foi nada. Entra, dorme um pouco que eu já volto. Como? Onde eu vou? Comprar cigarro, oras.

É isso, quem sabe assim ela larga do meu pé. Adoro desconfiança!

Não. Está se sentindo mais calma? Vai para cama que vou loguinho. Beijinho aqui, vem.

Cadê a chave do carro? Achei. Ah, que sentimento horrível, como eu sou horrível. Nunca mais vou fazer isso.

Mas olha só quem vem do outro lado da rua! Não conheço mas... vai ser um grande prazer!

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