Boa noite, queridos irmãos. Primeiramente gostaria de
agradecer a presença de todos e pedir ajuda aos irmãos espirituais para
inspirarem a minha palestra e me ajudarem a transmitir a vocês, da melhor forma
possível, a mensagem que eu trouxe.
Quando eu escolhi o tema determinismo e livre arbítrio eu
achei que era um tema fácil, que ia tirar de letra, mas quando eu realmente fui
estudar a causa para escrever a palestra, percebi que estava totalmente
enganada. O determinismo e o livre arbítrio são dois temas muito complexos, que
se chocam em discussões cientificas e espiritualistas até os dias de hoje.
Então percebi que eu tinha um grande desafio pela frente.
Para começar a falar do tema eu vou lhes contar uma história,
que acredito, vai ajudar a trazer um pouco de luz a essa questão.
"Quanto eu tinha 21 anos, eu estava em um ótimo período da
minha vida, afinal nessa idade, a gente não tem muitos problemas pra resolver,
normalmente só estuda e namora. Tudo é uma festa.
Eu estava no último ano de faculdade e fazia comunicação na
PUC, aqui em São Paulo. Apesar de saber que minha mãe trabalhava para me
manter, não tinha muito consciência do seu esforço. Achava que isso era normal,
que ela tinha que me bancar em São Paulo mesmo e que eu só precisaria trabalhar
depois de acabar a faculdade. Nesse período, eu estava namorando um rapaz ha
uns 4 anos e estava super em dúvida se queria continuar namorando ou não com
ele.
Nessa época, com um namorado de tanto tempo, normalmente eu
usava pílulas anticoncepcionais, que apesar de eu não gostar, me garantiam não
ficar grávida.
Eu não sei o que se passa na cabeça de toda mulher em uma
certa idade que faz com que ela ache que não pode engravidar. Vocês já pensaram
isso? Nossa, todas as minhas amigas pensam isso e eu, naquele momento, também
pensei e pimba, um mês sem tomar pílula, fiquei grávida.
Nessa época eu ainda não conhecia a doutrina espirita e
muito menos, tinha pensado na questão do determinismo e do livre arbítrio. Mas
a questão e que eu engravidei e, com 21 anos, sozinha em uma cidade como São
Paulo, grávida de um cara que eu nem sabia se eu queria ficar junto, eu senti
um desespero sem fim."
Agora vamos ao determinismo! Como a maioria deve saber, o
determinismo é a doutrina ou pensamento que afirma que tudo o que acontece na
nossa vida tem uma causa, inclusive nossas ideias, escolhas e atitudes. Ele
afirma que um determinado acontecimento não poderia deixar de acontecer, porque
foi ocasionado por uma causa anterior. Se eu jogo uma bola para cima, com
certeza ela vai subir e descer, batendo no chão. A causa da queda é a
gravidade. Para o determinismo, tudo no universo e movimentado por relações de
causa e efeito.
Além disso, o determinismo acha que a nossa liberdade de
escolha e na verdade uma grande ilusão. Para os deterministas, as escolhas que
nos fazemos não poderiam ser de outra forma, porque houveram uma sucessão de
eventos que aconteceram antes dessa escolha que fizeram que você escolhesse
exatamente aquilo, naquele momento.
Não é nada estranho pensar assim, porque a nossa própria
natureza e regida por causa e efeito, os cientistas usam o determinismo para
estudar e desenvolver seus projetos científicos, não é mesmo? Acho que aqui
todo mundo já estudou as leis de Newton!
Agora vamos voltar a minha história...
"Pelo determinismo, eu engravidei porque tinha que acontecer,
já que nossas escolhas e atitudes são apenas uma ilusão e o nosso cérebro é e
nossa vida são comandados pelas mesmas leis que regem a natureza...
É uma ótima opção, me parece bem interessante, visto que, se
eu não tinha escolha, eu ia engravidar de qualquer jeito. Então eu poderia
dizer a minha mãe quando ela virou pra mim e disse: minha filha, o que
fizeste!!! Ai eu diria: mas mãe, estava no meu destino, foi o determinismo
mãe!!! Você sabe que tudo funciona assim! Por mais que eu quisesse que fosse
diferente, isso ia acontecer.
E gente, isso realmente acontece na nossa cabeça, muitas
vezes eu ainda penso que a minha filha, linda, maravilhosa, incrível estava
realmente pré-determinada a aparecer na minha vida.
Antes dela, eu era uma adolescente sem responsabilidade,
tirava boas notas mas não trabalhava, não ajudava minha mãe, só curtia a
faculdade e o dinheiro que ela me mandava. Queria tudo mas não me esforçava por
nada. Quantas vezes a minha mãe tentou arrumar um estagio pra mim mas eu
continuava na inercia...
Mas quando eu engravidei, não sei, algo se apoderou de mim e
fiquei mais forte, virei mulher e comecei a sentir o peso da responsabilidade.
Depois que a Luiza, minha filha nasceu, virei uma leoa que precisava garantir
um futuro para ela e é nisso que até hoje, eu coloco meu empenho."
Então, dentro do contexto
do determinismo, tudo o que acontece na nossa vida esta pré-determinado!
E na verdade eu não tenho responsabilidade sobre o assunto, as coisas tinham
que ser assim, porque se tivesse sido diferente, pode ser que eu hoje não fosse
nada do que eu me tornei. Talvez nem estivesse aqui dando essa palestra nessa
altura da minha vida.
Mas dessa forma, nós seriamos como máquinas. Seria totalmente
possível para a ciência construir uma máquina como o nosso corpo, outra como o
nosso cérebro e reproduzir tudo isso, só seguindo uma série de eventos determinados.
E porque isso ainda não acontece? Será que é possível?
Bem, até aqui falamos sobre o determinismo, mas como eu
disse no inicio da palestra, estamos aqui para confrontar o determinismo e o
livre arbítrio, não é mesmo?
Se eu agi por livre arbítrio, na verdade, poderia não ter
acontecido. Eu engravidei por livre e espontânea vontade, já que a lei de causa
e efeito se estende a questões físicas e não aos nossos pensamentos e atitudes,
afinal, somos livres para escolher o que queremos ou não. Ou seja, temos livre
arbítrio!
Mas o que é efetivamente o livre arbítrio?
No livro dos espíritos. O codificador pergunta, no capitulo
da lei da liberdade, questão 843, se o homem tem livre arbítrio, ou seja,
liberdade e pensar e agir?
Os espíritos
respondem: se o homem tem a liberdade de
pensar, ele tem a liberdade de obrar, porquanto, sem o livre arbítrio o homem
seria uma máquina!
Na questão seguinte, eles respondem ainda que conforme se trate de espirito mais ou menos
adiantado, as predisposições instintivas podem arrasta-lo a atos repreensíveis,
porem, nao existe arrastamento irresistível. Sendo espirito encarnado ou
desencarnado, sendo consciente do mal a que esteja ou se sinta arrastado, utilize
a vontade no sentido de a ela resistir.
Então, faz sentido. Porque sem poder escolher, nos não poderíamos
nem sequer pensar. Só que o fato de podermos escolher, nos traz a questão da
responsabilidade sobre as nossas escolhas.
"Porque voltando a minha história, da mesma forma que eu
escolhi não tomar o anticoncepcional naquele mês, eu poderia ter escolhido
abortar... ou poderia ter escolhido ter a minha filha e depois, tê-la dado para
adoção. Poderia ter escolhido mandá-la pra minha mãe criar. Eu tive essa opção.
Mas de certa forma, eu tive uma educação, tive o exemplo de
uma mãe super leoa que criou 3 filhos sozinha, sem marido, muitas vezes
trabalhando 14, 18 horas por dia para dar conta de alimentar e dar um bom
estudo para que eu e meus dois irmãos tivéssemos um futuro.
Esse exemplo me ajudou a enxergar que, se eu abortasse, as
consequências disso poderiam ser desastrosas para minha vida. Sempre gostei
muito de ler e já tinha lido diversos depoimentos de mulheres que haviam
abortado e que sofriam para o resto da vida com essa decisão. Já tinha visto
casos de mães que deixavam os filhos com as avós e que os filhos no futuro, se
viravam contra as mães. Poxa, eu era uma pessoa, que apesar da pouca idade,
tinha muito consciência do que poderia acarretar uma escolha errada."
Consciência. Era aqui que eu queria chegar.
Ter livre arbítrio
significa que temos capacidade e nascemos com essa capacidade para agir e
pensar. É um dom que a gente usa para o bem e também pode usar para o mal. Mas a
questão é que sempre teremos que enfrentar as consequências desse mal uso.
Quanto mais consciência nós temos, quanto mais conhecimento sobre o bem e o mal
que fazemos, mais nos sentiremos responsáveis pelo que praticamos.
Um exemplo prático: Coloque um martelo na mão de uma criança
de 3 anos. Ela vai olhar o martelo, o martelo vai olhar pra ela e ela vai olhar
pra você e pimba! Pode acertar o seu dedão ou ate coisa pior. E o que você vai
fazer? Vai culpá-la? Ela não sabe que o martelo pode machucar, você sabia!
Então a responsabilidade era sua por colocar o martelo na mão dela.
Quanto mais experiência adquirimos, maior consciência temos
sobre as coisas. Essa consciência nasce da experiência diária, dos exemplos que
vivenciamos ao longo da vida.
Não é a toa que muitas pessoas que se envolvem arduamente em
causas sociais aliada a drogas, ou na ajuda de doentes de câncer, ou AIDS são
pessoas que já passaram por algum problema muito próximo, já tiveram um filho falecido
por causa das drogas, já tiveram um pai, mãe ou alguém muito próximo que ficou
doente.
Só quando a gente sente na pele é que adquirimos a
consciência do que significa aquilo e então, podemos desempenhar todo o nosso
amor e dedicação para o assunto, enfrentando todos os desafios que vem
atrelados a nossa luta.
Não é fácil fazer o bem. Não e fácil deixar seu filho em
casa dormindo para se embrenhar pelo caminho da benfeitoria. Na maioria das
vezes, o maior enfrentamento disso é a própria família, que não entende porque
você gasta seu tempo ajudando o outro desconhecido e não aos seus próprios.
Toda luta tem uma causa sim, só que escolher lutar é algo
maior do que uma máquina poderia fazer. Por mais que os cientistas coloquem os
humanos no laboratório e tentem entender porque uma pessoa escolhe uma coisa ou
outra, existem questões muito mais complexas a serem entendidas. Uma delas é da
Lei da Liberdade.
A liberdade é uma
condição básica para que o espirito se realize. Deus nos criou assim, por
natureza queremos ser livres mesmo que inconscientemente.
Mas a nossa liberdade não é absoluta porque estamos
condicionados a viver em sociedade e todos nós somos livres e por isso, sem
regras isso aqui seria um caos.
Muitas vezes, algumas pessoas que tem mais conhecimento que
as outras abusam disso, exploram outros indivíduos, humilham os mais fracos.
Mas os espíritos já nos disseram: é
contraria a lei de Deus toda sujeição absoluta de um homem a outro homem.
Portanto, temos que pensar que a liberdade legítima vem da
responsabilidade legítima. Só seremos livres de verdade quando tivermos total
consciência da nossa responsabilidade.
Olha que interessante. Isso quer dizer que, quanto mais
ignorantes somos, menos responsabilidade a gente tem sobre os próprios atos.
Mas isso também faz com que sejamos menos livres. Quanto maior a nossa
consciência, mais livres seremos.
Voltemos a minha história. Se eu não tivesse consciência de
que fazer um aborto seria algo que me faria mal e eu o tivesse feito,
provavelmente, passaria uma vida inteira de arrependimento para aprender isso.
Hoje, talvez eu estivesse aqui dando essa palestra, mas envolta em uma onda
pesada, de tristeza, falando sobre essa tristeza. E não adianta, por mais filhos
que eu tivesse ao longo do caminho, aquele bebê que eu tirei, ficaria para
sempre como uma ferida em meu coração.
E provavelmente, eu teria que desencarnar para encontrá-lo e
pedir perdão e talvez ele me desse a chance, em outra vida, de eu trazê-lo de
volta e dar amor e carinho a ele.
Mas o exemplo da minha mãe, o conhecimento que adquiri nos
livros e com certeza a experiência de vidas passadas, me libertaram dessa dor.
Trouxe um texto de André Luiz para pensarmos um pouco ainda
sobre a questão:
“Ninguém nasce destinado ao mal, porque
semelhante disposição derrogaria os fundamentos do Bem Eterno sobre os quais se
levanta a Obra de Deus.
O Espírito renascente no berço terrestre traz
consigo a provação expiatória a que deve ser conduzido ou a tarefa redentora
que ele próprio escolheu de conformidade com os débitos contraídos.
(...)Desse modo, ninguém recebe do Plano
Superior a determinação de ser relapso ou vicioso, madraço ou delinqüente(…).
Padecemos, sim, nesse ou naquele setor da vida, durante a recapitulação de
nossas próprias experiências, o impulso de enveredar por esse ou aquele caminho
menos digno, mas isso constitui a influência de nosso passado em nós,
instilando-nos a tentação, originariamente toda nossa, de tornar a ser o que já
fomos, em contraposição ao que devemos ser.”
O que isso quer dizer?
Se Deus é amor e não existe nada fora de Deus, podemos
deduzir que não existe nada fora do amor. O que é contrário a lei de Deus, na
realidade não existe de forma absoluta e pode ser considerado algo transitório.
Se nós agimos seguindo a lei de Deus, entramos em seu campo
de vibração e passamos a desfrutar desse amor. Quando a gente age contra essas
lei, na verdade estamos desiquilibrando a nós mesmos e nada mais. É como uma
vibração, se Deus esta em cima e você se desiquilibra, você desce seu campo
vibratório. Você fica em baixo pois está desiquilibrado, mas a Criação não, ela
continua em cima. E pra voltar pra cima o caminho é sempre mais difícil, pra
descer é sempre mais fácil.
Esse voltar pode ser muito lento ou mais rápido, de acordo
com a nossa conscientização sobre o assunto e a nossa vontade de corrigir o
erro. Assim, existem espíritos que se arrependem e corrigem rapidamente seus
erros e aqueles que se revoltam e as vezes, demoram séculos e séculos para
resgatar os tantos erros que foram cometidos, um apos o outro.
As leis de causa e efeito são muito claras e elas podem ser
percebidas no nosso dia-a-dia. Se você chega em uma loja e sorri para o
atendente e pede para ver um produto, automaticamente, o atendente vai sorrir
de volta e trazer o produto com simpatia. Se você tratá-lo mal e xingá-lo, ele
automaticamente vai ficar com raiva de você e também vai tratá-lo mal.
Tudo o que você faz volta com uma intensidade igual e
contraria para você mesmo. Quando
escolhemos o caminho do erro, a gente na verdade está criando uma reação
contraria de igual intensidade que vem contra nós mesmos e isso causa o
desiquilíbrio. Dai, segue que, ao adquirir consciência, descobrimos que
precisamos reverter o mal que fizemos no sentido contrário, para que possamos
alcançar o equilíbrio perdido.
Sendo assim, o homem só é livre de verdade antes de pensar
ou de agir, porque no instante que faz uma ação, está condicionado a um
retorno, mais cedo ou mais tarde.
A lei de causa e
efeito não tem caráter punitivo como muitos pensam, e sim educativo e
evolutivo. Ela sempre nos levará a um só caminho: o de Deus, o de amor. Quantas
vezes já ouvimos que todo caminho levam ao Pai? Jesus sempre dizia isso.
"Hoje minha filha está grande, bonita.
Graças ao pai, consegui, até agora, trabalhar com dignidade e garantir seu
sustento com estudos. Além disso, quando ela nasceu, o espiritismo surgiu na
minha vida como uma luz nos momentos em que me senti perdida, mas não me
contive em ler uma coisinha ou outra. Venho estudando desde 2004, cinco anos
aqui nessa casa e mantenho, dentro de casa, um estudo do evangelho no lar.
A Luiza participa do evangelho desde que
tem 3 aninhos. Mesmo quando ela não queria participar, eu forçava por acreditar
que isso iria fazer muito bem pra ela.
O que mais me impressiona nisso é que, depois de um tempo, não
só ela, mas todas as suas amiguinhas ficavam super interessadas no assunto
durante o evangelho, quem estivesse em casa no domingo, 7 da noite, tinha que
participar.
E elas adoravam, por incrível que pareça! Quando você coloca uma criança para estudar
o evangelho, para entender as questões que ela tem acesso, sofre mas não
entende propriamente como estudo, tais como paciência, misericórdia, respeito
ao próximo, a máxima do amor... elas se encontram, ficam mais conscientes e
felizes por entender como agir e se sentem melhores com seus atos.
Hoje, com 13 anos, ela me fala que os amigos pedem conselhos
a ela e até os mais velhos ficam admirados com o seu conhecimento sobre a
doutrina e sobre as questões morais. Ela só tem 13 anos, mas há 10 estuda os
princípios morais."
Não tenho nenhuma pretensão de dizer que o determinismo é o certo ou que o livre arbítrio realmente existe. Só estou trazendo fatos de que a lei de causa
e efeito existe em nossas vidas e através dos nossos atos que
vamos garantir um futuro melhor. Mas ao mesmo tempo, somos espíritos e nossas
atitudes e escolhas são conduzidas pelo liberdade de agir e, com certeza, trazem
efeitos para nossas vidas, baseado nas causas que foram geradas por nossas
escolhas.
É da nossa responsabilidade, estudar, participar da vida em comunidade
e mais do que isso, ajudar os nossos filhos a fazerem seu caminho em direção a
Deus, ao amor, mais rápido que nós, usando da nossa experiência para dar passos
maiores. Uma maior consciência sobre nossos atos nos ajudará a ter mais liberdade de escolha, pois saberemos melhor onde cada ação poderá nos levar e assim, sofreremos menos com o efeito.
Na minha vida, a Luiza foi uma boa escolha, mas tive muitas
outras erradas e ainda terei um longo caminho para alcançar a Deus. Mas espero,
que trazendo essa boa escolha como exemplo, eu possa ajudá-los a entender que,
um dia todos nós seremos livres, porque como já disse antes, todos os caminhos
levam a Deus. Só precisamos ser fortes e
estarmos conectados com o alto, para que nossas escolhas sejam as melhores
possíveis.
Assim poderemos ser
livres de verdade.
Fiquem em paz.
(Palestra escrita e ministrada por Joyce Baena em 21 de junho de 2012, baseada em fatos reais)