Ulisses entrou porta adentro com cara de psicopata. O dia havia sido um tanto conturbado. A nova empresa havia virado a sua cabeça do dia pra noite.
Uli se viu apontado por pensamentos sublimes de pagamento justo e remuneração com bônus para seus funcionáios, prêmios na festa de fim de ano, como uma bela viagem para Salvador num hotel com vista para o mar em reconhecimento ao esforço de todos durante o ano, e isso tudo, definitivamente, não fazia parte dos seus ideais de vida empresarial. A posição nova lhe atacava o espíritode maneira confusa e arrebatadora.
Além disso, a nova posição obrigava uma nova retomada em sua carreira, um salário mais modesto, verificar mesmo uma nova posição. Seu salário de dono de empresa mal dava para a manutenção de sua frota de helicópteros, quanto menos para o sustento de toda a sua família de um milhão de bovinos que, humildemente, ele criava num dos seus haras no interior do Mato Grosso do Sul. Era algo a se pensar...
Os desencontros foram reforçados pela vontade alienada de fazer o bem. Boas tardes, bons dias, um abraço amigo, grandes sorrisos, mas nada de acontecer o dribe final. Sua cabeça era nervosa e hiper-tensa e aguardava que tudo passasse no futuro, sem dar abertura de avançar o sinal.
Ulisses, pertubado, suado, cansado de insistir na recolhida, viu como única alternativa consentir com o veredito e chamou todos à reunião social. Enlaçados, os funcionários brindaram a nova aliança e se fez algazarra geral. Uma festa foi marcada para o próximo agosto, mês influente no calendário do ano e com tudo perfeito, foram consumadas as núpcias no andar de cima do prédio, com fogos de estontear o bairro inteiro.
Ao acordar no dia seguinte, Ulisses ja preocupado e infeliz, voltou ao trabalho e perdeu a primeira promoção, que foi mais modesta, graças ao seu esforço e sua nova posição social diante de seus funcionários, de homem modesto, casado e futuro pai de tantos funcionários felizes.
E a segunda perda de promoção se fez discreta e trouxe consigo um bom dia amigo, sorrisos no corredor, uma empresa alegre e cheia de gente vestindo a camisa.
E a perda da terceira promoção se fez dispersa e trouxe consigo o crescimento da empresa, gente fazendo fila para trabalhar, funcionários satisfeitos e cheios de orgulho, uma vontade imensa de ficar na empresa curtindo tudo e todos nas suas horas bem-vindas.
E a perda da quarta e da quinta se fizeram explosivas e trouxeram consigo muito dinheiro, muita harmonia, paz de espírito e um final de ano feliz para todos os envolvidos.
E Ulisses, enfim, começou a perder a noção de suas cinco novas promoções. E alucinadamente, começou a querê-las de volta, pois com tanta gente feliz e gritando seu nome, se sentia mal a qualquer ato menos heróico. O retorno das promoções ao grande Ulisses trouxeram a expansividade de volta, as portas tremendo e a cada entrada o berro original, cheio de mágoa e fúria insana.
E como num coito interrompido, seus funcionários aprenderam que tudo às vezes é nada e nada às vezes é mais nada ainda.